domingo, 3 de janeiro de 2010

Agarrando-se a seu cargo?


Texto de Seth Godin do livro "O Futuro não é mais o mesmo". Este autor é americano e a partir das idéias do seu blog, resolveu publicar um livro. São temas bastante curiosos, porém voltados para a área de marketing. Este texto me fez refletir sobre a importância que damos aos cargos que conquistamos dentro das organizações.



Algo aterrorizante aconteceu comigo. Estava no avião, indo para a Inglaterra para fazer uma palestra quando tive um ataque de pânico.

Não que eu tenha medo de voar. Tive essa crise porque tenho medo de passar pela alfândega. Bem, nunca tentei contrabandear nada em toda a minha vida e meu passaporte está em perfeita ordem. Entretanto, sempre tive essa paranóia de ser injustamente preso por um burocrata troglodita de um país estrangeiro. Contudo, dessa vez, meu temor era fruto de algo mais racional: um formulário. Não era um formulário comum; era um documento oficial do governo.

Não era um formulário tão grande - talvez cerca de 10cm x 15cm. Pedia uma série de informações básicas, como meu nome e endereço, mas, no verso, em letras pequenas no canto inferior, estava uma pergunta que me encheu de pânico: qual era a minha profissão.

Repentinamente fiquei dominado por dúvidas e temores, incertezas e por questões irrespondíveis. Senti que uma crise de identidade da nova economia pairava sobre mim. Quem sou eu? O governo britânico precisava saber. Insistia em saber. E se eu desse a resposta errada e fosse pego mentindo? O que aconteceria? Eu corria o risco de passar anos nos porões de alguma prisão comendo mingau no café da manhã e salsicha com purê de batatas no jantar.

O que sou? Um escritor? Um empreendedor? Um editor? um caixeiro viajante? Um palestrante? Um contador (embora fraco)? Um profissional de marketing? Eu poderia continuar. Poderia citar de quinze a vinte "ocupações" que eu exerço diariamente.

Foi aí que caiu a ficha: o mundo está mudando. Os dias de "leiteiro", "carteiro" e "soldado" já são coisa do passado. A maioria das pessoas que eu conheço teria a mesma dificuldade que eu tive em definir sua profissão (embora isso não signifique que elas teriam um ataque de pânico).

O que você é?

Ao se aferrar a uma ocupação, isso o torna um profissional melhor? Será que isso facilitaria a identificação das pessoas com quem você gostaria de trabalhar ou das pessoas que poderiam ajudá-lo a executar suas tarefas? Ou será que isso apenas obscurece as coisas e faz com que você participe de reuniões nas quais não deveria participar? Isso lhe dá alguma segurança no emprego? Ou um referencial sólido na velha economia que você carrega consigo para ter um senso (verdadeiro ou falso) da estabilidade? Ou, pior ainda, você usa seu cargo como escudo? Ou como uma desculpa para quando as pessoas lhe pedirem algo você poder dizer: "Isso não é comigo"?

Já que tocamos nesse assunto, quais são as atribuições do seu cargo? Será que é um documento otimista, esperançoso e poderoso que lhe dá a permissão para explorar novas oportunidades e realizar coisas? Ou será que é um escudo de defesa que facilita a identificação das coisas que não são de sua responsabilidade? As empresas que não dispõe de empregados cuja frase "aumentar nossa presença em mercados internacionais" não consta das atribuições de seus cargos raramente se dão ao trabalho ou assumem os riscos de desenvolver presença global. As empresas que fazem descrições meticulosas das atribuições de seus empregados estão dando-lhe permissão de ignorar excelentes oportunidades de negócio, e ao fazê-lo, estão perdendo mercado a cada dia.

(...)

Como pode uma empresa ser ágil se as pessoas que fazem parte do sistema não sabe quem faz o quê? Como pode uma empresa ser permeável para o mundo exterior se quem está do lado de fora não sabe a quem se dirigir do lado de dentro? É realmente possível criar um sistema de comunicação rápido e informal que mantenha todas as áreas da empresa em sincronia? Quanto entra uma fatura, você o encaminha para a contabilidade porque esse é o trabalho dele. Mas a quem cabe decidir se a empresa deve utilizar a tecnologia do MP3 para melhorar as relações com os clientes?


Isso nos leva de volta onde começamos. É improvável que você tenha apenas uma ocupação. Em vez de fingir que todos nós temos apenas uma ocupação, talvez devêssemos acolher a natureza "multiocupacional" de nossos trabalhos. Poderíamos escolher um novo título, de múltiplos propósitos, para o nosso cargo que pudesse comunicar nosso verdadeiro trabalho - cargos como "especialista e agradar clientes" ou "agente de mudança" ou mesmo, talvez, "pessoa que comparecerá a uma reunião e depois consertará a empresa".


Não é bobagem. Trata-se de comunicar - para os seus colegas, para o mundo exterior ou para si próprio - aquilo que você realmente faz o dia todo.



Bem... espero que possa servir de inspiração para você, assim como serviu para mim. É muito fácil "fechar os olhos" e ignorar problemas na empresas e / ou com clientes somente porque não é uma atribuição do nosso cargo. Se conseguimos resolver... qual o problema de fazermos? A recompensa deste ato pode nã ser imediata, mas certamente acontecerá.


Até mais...



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