quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ah, as Mulheres de Vinte

Ah, as mulheres de vinte anos! Entre vinte e trinta. É o que há de melhor em mulheres no Brasil. E antes de ser tachado de velho tarado, aviso: não estou falando do corpo. É a cabeça menos preocupada em se tornar linda fisicamente. São lindas, simplesmente são. Desde a geração da minha bisavó (nascida no final do século 19) eu não vejo mulheres brasileiras tão autênticas. Tão elas. São elas, entre 20 e 30.

Eu acho que eu vou arriscar um palpite. Elas são filhas do que já houve de mais doido e revolucionário no Brasil. São filhas de ex-hippies, ex-líderes políticos estudantis ou de outras minorias, filhas de pai que já fumaram (e a maioria tragou), filhas de quem viu o homem subir no espaço e dizer que a terra é azul, e especialmente, filhas de feministas quase ortodoxas.Enfim, filhas de uma geração que lutou para abrir as portas.

Os seus pais, por serem iniciantes (além de muito jovens) em suas rebeldias, foram extremamente radicais. Me lembro de uma amiga feminista que não admitia que um homem segurasse no seu cotovelo para ajudar a atravessar a rua. Mas as mulheres de vinte não são feministas, são fêmeas. Ponto.

E as mulheres, que hoje têm entre 20 e trinta anos, souberam amenizar todo aquele nosso radicalismo. Parece simples, mas já nasceram com a sabedoria e a revolução que seus pais fizeram. Alguns, até morrendo.

Tudo isso além, é claro, daquela tatuagem que entra para dentro do biquíni, só para a gente ficar imaginando o que é aquilo e onde vai dar. Além, é claro, daquela orelha cheia de brilhantezinhos. Além, é claro, daquela que quem sabe que é. Além, sobretudo, do tom que vai do cor-de-rosa ou jambo verde-amarelo.

Antes mesmo de começar a escrever sobre você, que tem entre 20 e 30 anos, recebi um e-mail de uma de 22, jornalista e emancipada:

"Meu querido, mulher de 20 e poucos anos, não fica rindo quando fuma um baseado, não. Fica assim, louca para ficar, para experimentar todas as sensações, que por ter 20 e poucos anos, ela ainda não conhece. E não há nada mais excitante que a curiosidade - principal qualidade da mulher de 20. E com 20 anos essa curiosidade vai livre de medos e receios, pronta para usar e aguçar.

Mas o melhor de tudo é que com 20 anos você acredita que a vida é simples; que nós vivemos do que acreditamos; amamos tudo e todos, queremos dar e receber muito amor; conhecer gente, trocar energias, pegar um pouquinho de cada pessoa que passa pela nossa vida, desejar apenas fazer o bem, ser uma pessoa boa. Papinho bicho grilo este, né? Pode ser, mas tão mais saudável do que pensar na barriguinha que está crescendo, no botox que é caro, no cabelo que precisa de escova, no medo de envelhecer, etc"...

Ah, as mulheres de vinte... Abreviam tudo!

A maioria delas já é mãe. São mulheres que convivem com a filha, mãe e avó. Algumas até com bisavó. Apenas elas podem tirar proveito de viver um século inteiro sem sair de si mesmas. Aprendeu com a avó, com a mãe e agora se assusta com a própria filha. Que não a chama de senhora, onde já se viu? E a enfrenta na frente "das visitas".

Demorou um século para surgirem as mulheres de vinte. E nos puseram e nossos lugares. Admiradores, fãs e, porque não dizer, pai de uma delas que me ensina, diariamente, que viver não é tão complicado assim. Basta ter vinte anos. Sempre. Mesmo tendo acabado de fazer 58!


Mário Prata - Revista Época 27/02/2004



Um comentário:

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