A arte de chorar, a propósito é a primeira das artes, assim como as lágrimas são a única língua universal que existe na terra, e que provavelmente foi falada antes da Torre de Babel.
Quereis a prova?
Abri a boca e chorai... todo mundo entenderá que tendes fome.
Chorai e bebei as lágrimas; e logo se conhecerá que estais morrendo de sede.
Levai a mão ao coração e chorai olhando uma mulher; e ela compreenderás que a amais.
Erguei ao céu os olhos rasos de prantos, juntai as as mãos; e ninguém deixará de entender a prece muda de uma alma infeliz.
Voltai as algibeiras e deixai correr algumas lágrimas; e logo verás que não tendes dinheiro nem crédito.
Uma lágrima isolada, que prende da pálpebra, e corre lentamente por um rosto pálido e triste, exprime uma dor silenciosa e concentrada; é como uma gota de fel que verte do coração
Duas lágrimas límpidas que empanam às vezes o brilho dos olhos, e se desfilam docentemente pelas faces, dizem uma saudade, uma suave recordação.
O pranto e os soluços são a expressão do desespero, assim como uns olhos rasos de lágrimas e um sorriso revelam o momento da suprema felicidade deste mundo.
E entretanto, apesar do poder irresistível desta linguagem universal, todo mundo trata de rir, e ninguém sabe chorar. As lágrimas vão caindo em desuso; e apenas nas despedidas e nos enterros ainda se usa, bem que raras vezes, deste meio persuasivo.
(José de Alencar)
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