domingo, 21 de fevereiro de 2010

A religião

A religião, essa sublime epopéia do coração humano, tem um símbolo para cada sentimento, uma imagem para todos os acidentes da nossa existência.

É ao pé do altar que o homem vê abrir-se para ele uma fonte de todas as as supremas venturas deste mundo -  família; e quando o sopro da desgraça vai desflorando uma a uma as flores da vida, é ainda ao pé do altar que achamos o consolo para as grandes dores, a esperança nos maiores infortúnios.

É que nesta brava romaria que fazemos pelo mundo, a religião nos acompanha como esses guias mudos do deserto, apontando-nos umas vezes o nada de onde partimos, outras a eternidade para onde caminhamos, e mostrando-nos a espaços com um aceno a linha negra que prognostica o simoun, ou os rastos dos animais que anunciam o oásis no meio das vastas sáfaras de areia.

Quantas vezes no seio das alegrias e dos prazeres, quando nossos olhos vêem tudo cor-de-rosa, quando o ar que respiramos parece vir perfumado dos bafejos da ventura, não sentimos de chofre o coração apertar-se como tomado por um doloroso pressentimento, e a alma constranger-se numa angústia pungente?

O deslumbramento passa rápido como o pensamento que o produziu. Mas dir-se-ia que o coração, comprimindo-se, como que vertera na taça do prazer uma gota de fel, e que entre o rumor da festa e os sons alegres da música, viera ferir-nos os ouvidos com um eco surdo das lamentações de Jó.

Também às vezes a fortuna nos embala docentemente, e ambição nos empresta suas asas de ouro, ao passo que a glória envolve-nos com a sua auréola brilhante. Então o homem caminha com os olhos fitos na sua estrela, e com a cabeça alta passa sem perceber as misérias do mundo.

Mas lá vem um dia, uma honra, um instante em que o corpo verga como o peso de tanta grandeza e a cabeça acurva-se para a terra. Os olhos que mediam o espaço vacilam; a vista que se dilatava pelos horizontes e ousava sondar os arcanos do futuro quebra-se ao encontro a uma lousa, a um fosso, onde a pá do coveiro traçou um estreito quadrado e com um pouco de terra revolvida o emblema ao som de uma sentença do Eclesiástico.

Se, porém, a religião é severa nos seus conselhos, e durante os dias de paz e de ventura fortifica o homem por meio da tristeza, na dor ao contrário, é de uma bondade infalível.

Nem uma fibra palpita no corpo humano, nem uma pulsação abala o coração, nem um soluço arqueja num peito quebrado pelo sofrimento, que não ache nela um eco, uma voz que lhe responda.

Neste grande livro da fé e da esperança, neste sublime diálogo entre Deus e o homem, todas as lágrimas têm uma palavra, todos os gemidos têm uma frase, todas as dores uma prece, todos os infortúnios uma história.

A vida humana se resume na religião; nela se acha a essência de todos os grandes sentimentos do homem e de todas as grandes coisas do mundo.

Tem a severidade e o respeito que inspira a paternidade e ao mesmo tempo todos os zelos da maternidade. Aconselha como um pai quando fala pelos lábios de um sacerdote; é a mãe que se multiplica para seus filhos, quando abriga no seu seio todos os infelizes.

Mas, quando se folheia este livro da vida, e que se chega à última página - à morte - quando a alma, em face do nada sente-se tomada desta grande e assombrosa ameaça do completo aniquilamento, é que se sente quanto há de consolador na religião.


(José de Alencar - Ao correr da Pena, pág. 82 - 85)



Texto longo, não?! Concordo! Mas por trás das poéticas palavras do escritor José de Alencar, no texto acima, está uma reflexão de que só buscamos Deus nos momentos de aflição.

Ou você, sequer, lembra da existência Dele quando se está muito feliz, com fartura, com dinheiro no bolso, com a família cheia de saúde? Por acaso lembra de agradecer pelas boas coisas que recebe do Criador?

Todos nós somos assim! Aí... quando a morte, a desgraça, e até mesmo a famosa "fatalidade" acontece... é Deus quem tem que limpar as nossas lágrimas e resolver nossos problemas... quando na verdade, Ele está presente na nossa vida em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins.


É um assunto para se pensar com carinho e seriedade... 

Bom domingo!

Um comentário:

  1. Minha querida :-)

    como prometi e com muita honra venho comentar este lindo texto, e cmo ele é tão real :-), hoje não sou homem de relegião, ja fui, e com muita honra, fiz 12 anos de catequese e depois fui catequista e formador, por muitas razões afastei-me da igreja, mas nunca me afastei da minha fé, e Deus comigo acorda todas as manhãs e adormece todas as noites, sempre :-)!

    beijo no seu coração

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