sexta-feira, 14 de maio de 2010

A fila

A fila é um sofrimento. É mesmo? Depende como você encara a fila. Em primeiro lugar você não pode levar a fila a sério. Existem filas e filas. Uma fila de banco, por exemplo, é completamente diferente de uma fila de padaria. Uma fila de campo de futebol não tem nada a ver com uma fila de supermercados. Senão, vejamos:



A pior fila, no consenso geral, é a fila do banco. Sim, você começa a sofrer com ela no dia anterior. Amanhã vou ter que ir ao banco. E você já dorme com a aquela fila na cabeça. Sonha com ela. (...) Ninguém está feliz na fila do banco. Já notou? O sujeito que está ali sofrendo. Já chega sofrendo. Ele sabe que vai sair dali um pouco mais pobre, no mínimo.

Mas o pior na fila do banco é que a gente, que está mais atrás, olha a quantidade de papelzinho que o da frente tem na mão e logo pensa: isso vai longe. E quando a menina do caixa pede licença para pedir uma orientação ao gerente lá na outra sala? Todo mundo olha no relógio. E a inveja que a gene fica do segundo da fila? Dá vontade de matar o sujeito. E aquele que disfarça? Está só com um papelzinho na mão. Mas quando chega na vez dele, abre uma pasta. Uma pasta! De repente você começa a observar as pessoas na fila e nota que são todos boys, empregadas ou secretárias. Só você é "normal" ali. Quem mandou ser pobre?

Vamos para a padaria. A fila é completamente diferente. Normalmente são pessoas que estão ali para comprar alguma coisa para aquela noite mesmo. É uma delícia ficar ali observando. Ali você logo descobre que a pessoa é  solteira ou casada, se mora sozinha ou não. Os hábitos de cada um. Existe solidão maior que aquele senhor que está levando uma (uma!) cervejinha para tomar em casa? Já a mocinha leva a coca light e um (um!) pãozinho. E aquela senhora que veio comprar um rolo de papel higiênico? O garoto deve ter convencido a mãe a levar aquele sonho de valsa. Ele está babando, olha lá. E aquele sujeito com a cara de hippie que está levando leite para a casa? Já aquela mocinha deve ter um bebê em casa. Leite Ninho debaixo do braço. Olha lá o alcóolotra. Uma garrafa de uísque. Nacional! A noite promete, Aquele outro vai apenas pagar a coxinha e o cafezinho. Está jantado? O outro é fumante. Leva logo um pacote. Aquele é um bom pai. Paga a cachaça dele e leva quitutes para a esposa e os filhos. Coitadinho do senhor que comprou uma (uma!) camisinha. Quais são seus planos?

Já a fila para comprar ingressos do jogo é outra coisa. Ali ninguém está normal. Ou está tenso ou eufórico. Sua principal preocupação é com o fura-fila. Seu pescoço parece um periscópio. Ai de quem furar a fila! Não encoxa! Não encoxa! o palavreado também difere muito das demais filas. Ali ele solta a franga, preparando-se para xingar o juiz.



Mas a melhor fila para se curtir, para entender e conhecer o caráter, o nível pessoal das pessoas, é a fila do supermercado. nada como ficar ali, observando o que as pessoas tiram de seus carrinhos. Ali vai uma vida inteira.  Você fica sabendo tudo da pessoa. Tudo. Seus gostos, suas manias, seus desejos mais íntimos. Cada carrinho daquele carrega uma vida inteira. Ou mais de uma vida. Ali vai as coisas para a compradora, para o marido dela, para os filhos dela, para a vovozinha dela. Ali mesmo, você fica sabendo se ela tem cachorro ou gato em casa. Se os trata bem. Sem contar aquele veneno para ratos. E fica sabendo, pela quantidade, se o super é para um dia, uma semana ou é mensal. Bem, pela quantidade de rolos de papel higiênico, a coisa vai longe.

Tem a fila do cinema onde você fica torcendo para não passar nenhum demancha-prazer que está saindo da sessão anterior fazendo comentários sobre o filme. Tem a fila do exame de fezes, todo mundo com uma caixinha na mão, sorrindo sem graça. Tem a fila de contas atrasadas, desagradabilíssima: você sabe que todo mundo que está ali, por um motivo ou outro, não pagou no dia.

Toda fila tem seus encantos (basta saber curtir). Menos a fila da fome, no nordeste, esperando comida. Não dá para olhar para a foto (na primeira página dos jornais) daqueles brasileiros, e fazer brincadeira. Aquela fila é uma coisa séria, gente.

(Mário Prata)



2 comentários:

  1. E tem aquela pessoa estressadíssima que fica olhando pra vc (que está logo atrás dela), esperando aprovação pra poder desabafar, reclamar, falar alto... rsrsrs E quando vc finge que não tá nem aí, ela fica mais estressada ainda... Me divirto! rsrsrs

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  2. Nusss.. o que eu odiava em fila de banco, aquelas pessoas que ficam atrás de vc, mas fica assim, bem perto, 'fungando no cangote' ou se é mulher e tá com aquelas bolsas enormes, ela fica virando pra lá e pra cá e batendo com a bolsa em vc.. affff... ainda bem que não vou mais em banco. (No máximo no caixa eletrônico!)

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Pessoal, estou aberta a qualquer comentário que queiram fazer... opinar, criticar, sugerir... aguardo!

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